Softwares que nos ajudam muuuuito

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A pesquisa em ciências sociais é muito relacionada, no senso comum, a livros, livros e mais livros e a um trabalho de campo que depois leva a análises muitas vezes qualitativas, que, em tese, poderia livrar o pesquisador do uso de softwares e aplicativos nem sempre fáceis de usar. Não que isso não possa ser verdade e seja possível fazer uma investigação de doutorado imensa mergulhado em um mundo de recortes de jornais, livros empilhados e um esquemão grudado na parede. Quem prefere trabalhar assim, nada contra. Mas hoje existe uma série de ferramentas que ajuda bastante a evitar o caos e a organizar melhor o trabalho, facilitando até mesmo a fazer a nefasta lista de referências bibliográficas sem traumas. Ainda sou uma mera aprendiz destes aplicativos, mas posso dizer que já não vivo sem eles e vou falar de dois aqui para mostrar como eles podem ser úteis.

O primeiro é o EndNote, um aplicativo usado para fazer as tais referências bibliográficas. A versão de desktop é paga, mas a online é gratuita e é a que estou usando sem problemas. A Universidade do Minho, por meio de seu serviço de bibliotecas, preparou um tutorial para ensinar a lidar com o programa. Então, não vou ensinar a usá-lo, mas vou falar de suas funcionalidades.

Depois de criar uma conta, o pesquisador deve começar a alimentá-la com as referências bibliográficas que quiser. E pode fazer isso manualmente, digitando item por item do que quer referenciar, ou importando a referência seja do Google Books, que a disponibiliza já no formato apropriado para o EndNote, seja da revista acadêmica que publicou o artigo, seja de repositórios online que também disponibilizem a citação pronta. Essa parte do preenchimento pode dar algum trabalho, mas é para o bem: depois de feito, você tem lá a referência, que pode ser acionada sempre que necessário ao se digitar o trabalho no Word. Isso mesmo, o EndNote disponibiliza uma extensão para o Word (Windows), pelo qual é possível puxar a referência e, tcharam, ela aparece tanto no meio do texto, direitinho, no formato que se deseja, por exemplo pela ABNT é o sobrenome em caixa alta e o ano da publicação (ATTON, 2011), ou pela APA vem o sobrenome em caixa alta e baixa e também o ano (Atton, 2011), e ao final aparece a lista de referências completas e organizadas, seja por ordem alfabética, seja por ordem de aparição no texto, do jeito que se preferir. E, melhor, é possível alterar a formatação das referências mesmo depois de inseri-las, no momento que for mais conveniente. Enfim, não dá para viver sem um programa como este. Por fim, entre as boas vantagens, é possível compartilhar as referências com colegas, seja parcialmente ou completamente, o que também é uma boa vantagem.

Há também outras opções similares, como o Mendeley, que é totalmente gratuito. Vale experimentar para decidir com qual se adapta melhor.

Agora vou falar de um programa que ajuda a organizar a análise de dados em pesquisas qualitativas. Eu disse organizar, porque a análise quem faz ainda é o pesquisador, não sai automaticamente. Trata-se do NVivo, um software infelizmente pago, mas que apresenta uma versão para estudantes um pouco mais em conta – para quem tem bolsa de estudos, acaba por ser um investimento às vezes necessário.

Bem, também não vou explicar como se usa o programa, há tutoriais em vídeo (mais um aqui) que podem ajudar. Trata-se de uma ferramenta onde é possível puxar conteúdo midiático seja em texto, imagens, áudio ou vídeo, definir categorias para interpretá-los e, a partir daí, analisá-los à luz de certa perspectiva teórico-metodológica que oriente o trabalho. Vou dar um exemplo prático: decidi aplicar análise de conteúdo em uma primeira abordagem que estou fazendo sobre os grupos de jornalismo alternativo que pesquisa. Para isso, com a ajuda de uma extensão do NVivo para o Chrome, o NCapture, puxei as páginas do Quem Somos de todos os grupos que estou estudando, alguns em seus sites, outros no Facebook. Depois disso, fui ler cada texto de autoapresentação e comecei a marcá-los com certas categorias que defini, a partir dos estudos sobre o jornalismo e sobre mídia alternativa, bem como a partir do que eles mesmos apresentavam. Categorizar é tentar encontrar chaves-de-leitura que possam ser expandidas para mais de um grupo, ainda que eles tenham propostas bastante diferentes. É a busca por encontrar regularidades, pontos em comum, que nos ajudem a explicar porque eles estão agrupados nesta categoria maior que é a do jornalismo alternativo. Este é um processo longo, cansativo, bastante subjetivo, mas que também não pode ser desconectado de certos critérios claramente expostos na definição metodológica. Enfim, dá um trabalho imenso.

Mas depois de tudo categorizado, é possível enxergar, tanto em números como nos trechos destacados em cada autoapresentação, respostas às perguntas que precederam todo o estudo. No meu caso, a partir da pergunta principal, como os grupos de jornalismo alternativo definem a sua atuação. Mais à frente, trago um resumo dos resultados que tenho alcançado.

Outra funcionalidade legal o programa proporciona é fazer aquelas nuvens de palavras fantásticas, sem grande trabalho. É você decidir em que fontes pesquisar, definir a quantidade de palavras, a partir de que tamanho, até excluir as que não vão influenciar nada (preposições, por exemplo).

Há inúmeros outros softwares que cumprem a mesma função. Ainda não mexi neles, só vou citar os nomes: o R, que é uma ferramenta gratuita, aparentemente é muito versátil, mas exige que o pesquisador saiba manejar um pouco programação (tutorial aqui). Também tenho colegas que usam o Atlas.ti.

Não dá para parar no tempo nem achar que basta um conhecimento teórico e erudito para fazer pesquisa. As ferramentas também são fundamentais para que tudo aconteça da melhor forma. E porque não usar ferramentas digitais para tornar este trabalho mais abrangente?

O meio pode não ser a mensagem, mas interfere

É inegável que a recente revolução propiciada pelas mídias sociais tem contribuído para que se amplie a produção alternativa. Afinal, qualquer um pode ser agora um produtor de comunicação, tendo à disposição um meio de distribuição acessível, gratuito e cada vez mais utilizado pela população. Mas isso significa que já houve a democratização da comunicação? Não vou me aprofundar essa discussão neste momento, mas vou colocar em discussão um aspecto dela.

O Facebook é o meio mais usado pelos grupos de jornalismo alternativo que tenho estudado para difundir duas mensagens. Praticamente todos estão lá. Da minha lista de 101 grupos brasileiros, todos têm páginas ativas no Facebook, sendo que dois não têm sequer sites próprios. Da Espanha, onde há mais grupos anarquistas, dos 41 grupos estudados, 5 não têm perfis no Facebook, e todos têm sites próprios. Já em Portugal, dos 11 grupos estudados, todos estão no Facebook, sendo que um só tem esse meio para se expressar com o público. Os grupos ainda usam inúmeras outras redes sociais digitais, tais como Twitter, Instagram, Vimeo, Youtube, mas isso depende da natureza de cada grupo. O Facebook, como mostram os números, é quase uma unanimidade.

O problema é que, como alertou Leil-Zahra Mortada, durante evento sobre Videoativismo que assisti em Berlim na semana passada (já falei do evento num post anterior), o Facebook não é o “espaço público”. O Facebook, assim como qualquer outra mídia social, é uma empresa privada, com interesses próprios, pautados em grande parte em interesses econômicos, e que, entre outras coisas, compartilha dados dos usuários com inúmeros outros parceiros, inclusive o Estado. Além disso, no fim das contas, decide o que pode ou não ser publicado, a partir daquela política de “privacidade” que ninguém lê. Assim, se a equipe de Mark Zuckerberg considerar que uma postagem de determinado grupo alternativo, denunciando autoridades, está contra a tal política de privacidade, ele tira do ar e pronto. Não adianta chorar.

Mortada considera a si mesmo um ex-videoativista e hoje atua em Berlim, na Tactical Technology Collective, dando consultorias e fazendo projetos sobre segurança digital com organizações não governamentais. Para ele, os movimentos de comunicação alternativa vivem um retrocesso diante do que já aconteceu há alguns anos, sobretudo com a experiência da Indymedia, da qual ele participou. A Indymedia (Independent Media Center) foi uma iniciativa de mídia participativa que ganhou dimensão global nos anos 2000. Ainda existe em diversos países, mas sem a mesma expressão que teve no passado. A ideia central era e é disponibilizar uma plataforma própria online, com curadoria coletiva, para que qualquer pessoa pudesse produzir e difundir notícias.

Para Mortada, é inaceitável que os movimentos que querem estabelecer uma mídia alternativa tenham desistido ou não se preocupem mais em ter sua própria plataforma online coletiva e se submetam às regras de uma empresa privada. Não só pelos riscos de haver censura ao bel prazer do dono da mídia social, mas porque os produtores de conteúdo ficam expostos e correm inclusive riscos de segurança, sobretudo em países com conflitos políticos e perseguição policial contra ativistas (o Brasil não está muito longe disso).

Enfim, Mortada aconselha não apenas que os coletivos voltem a construir uma plataforma própria, como também recomenda que toda a produção seja guardada em provedores seguros, e que usem criptografia. Aliás, ele recomenda que todo ser humano com um perfil online use criptografia, para resguardar sua integridade e privacidade. Quando estamos frente a frente com a tela do computador, custa acreditar que, na verdade, estamos vivenciando o que George Orwell antecipou em 1984, com o Big Brother. Mas, sim, precisamos lembrar disso, estamos sendo viviados, e todo e qualquer esforço para reduzir essa exposição é bem-vindo.

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O poder do videoativismo

Meu objeto de estudo é a produção de grupos de jornalismo alternativo de Brasil, Portugal e Espanha, mas com foco no conteúdo em audiovisual. Ou seja, o que eles fazem em vídeo. Não que o vídeo seja melhor ou pior do que os trabalhos em texto escrito, mas tal forma de produção me interessa especialmente por alguns motivos:

  1. Porque são poucos os estudos que se interessam por jornalismo alternativo que trabalhem especificamente com as produções em vídeo. Geralmente, entre os mais recentes, o interesse crescente tem sido a respeito de postagens em redes sociais, a partir da palavra escrita, ou sobre os processos de produção em si (estudos que, mesmo quando falam da produção em vídeo, não chegam a analisá-la), o que torna ainda mais necessário haver pesquisas que se interessem pelos vídeos;
  2. Por trazer imagens em movimento com som e a expressão direta de diferentes vozes, trata-se de um meio de narrar histórias poderoso e envolvente, com o poder de agregar elementos normalmente substituídos pela imaginação quando lemos um texto escrito. No vídeo, está tudo lá, e o acontecimento cru alcança tal nível de verossimilhança que fica difícil dizer que aquilo pode ser uma mentira (ainda que muitas e muitas vezes seja);
  3. Produções em audiovisual acabam sendo as mais acessíveis, já que não demandam nenhuma literacia especial, como a necessidade de saber ler, dos textos escritos. E quanto há imagens, mesmo a língua pode ser totalmente suprimida, em muitos casos. Essa facilidade do acesso acaba por se converter, com isso, em uma imensa potencialidade de se alcançar um público muito maior, o que amplia seus possíveis impactos;
  4. Um texto escrito pode nos emocionar, mas, para isso acontecer, ele precisa ser muuuuito bom. Já um vídeo pode estar tremido, borrado, com um enquadramento péssimo, mas dependendo do que ele mostra, nos leva à emoção facilmente. Desde a empolgação, alegria, tristeza, dor, até a raiva. E essa característica tem sido usada na produção do jornalismo alternativo.

Bom, essas são só algumas das razões que me levaram a querer estudar produções em vídeo. Há outras ainda, de caráter mais pessoal: sou professora de telejornalismo, e a produção tradicional das TVs tem me desencantado cada vez mais. Mesmo as inovações que tentam aplicar são tão sem sentido, desinteressantes e desnecessárias. Mas a culpa não é nem do jornalismo nem do meio, a TV. A culpa é da falta de compreensão do papel do jornalismo na atualidade, em meio às mudanças trazidas pelas redes sociais digitais. Enfim, ao ter contato com produções alternativas, comecei a ver uma luz no fim do túnel. Algo que realmente me empolga, sem me distanciar da crítica, obviamente, porque há inúmeros problemas que envolvem tais produções, mas algo vivo, novo, que demonstra o quanto o jornalismo ainda tem a contribuir para a sociedade. E a pesquisa em comunicação também. E fora tudo, tenho colegas que passaram a atuar como produtores de vídeos alternativos, do Coletivo Nigéria, o que ajudou também a despertar ainda mais minha curiosidade e a admirar este tipo de atuação.

Mas definir qualquer coisa constitui um problema imenso de saída. Afinal, o que tais grupos produzem é jornalismo? Ou é cinema? Ou é videoativismo? Ou é um híbrido de tudo isso?

A discussão entre jornalismo e cinema é, do meu ponto de vista, inócua neste momento, pois engloba questões estéticas com as quais, sinceramente, na maioria das vezes eu discordo. Como eu não sairia inteira de uma discussão dessas, melhor deixar de lado. Mas o videoativismo pode e deve ser discutido.

Para entender um pouco mais esta prática, que para mim tinha um viés muito mais próximo da propaganda do que do jornalismo, vim a uma conferência intitulada The Power of the Video Activism, que aconteceu nos dias 12 e 13 de maio em Berlim (no ICI Berlin, https://www.ici-berlin.org/). Com uma vasta relação de pesquisadores e videoativistas para falar ao longo de dois dias, pareceu ser uma boa oportunidade para eu conseguir diferenciar de vez tais práticas do jornalismo alternativo que eu investigo.

O problema foi o oposto. Evidentemente não dá para dizer que todo vídeo produzido por grupos de jornalismo alternativo é um tipo de videoativismo, mas muito são. Não há diferença.

Práticas de videoativismo não são novidade, mas ganharam nova dimensão na última década, com todas as primaveras vistas ao redor do mundo.

Mas o videoativismo também não é óbvio em si mesmo. No fim, parecer ser tão ou mais difícil de definir do que o jornalismo alternativo. Porque engloba desde vídeos testemunhas de violência contra grupos minoritários ou manifestantes, coberturas de manifestações sobre as mais diferentes pautas, gravações de performances com fins políticos, vídeos de mobilização, montados a partir de um roteiro pré-concebido, documentários. A gama de possibilidades é imensa e muita coisa, quando você vê, parece necessariamente uma ação ativista. Afinal, uma pessoa que levava um telefone celular nas mãos, no meio da rua, e que se depara com uma cena de violência policial contra um homem negro, que nitidamente fugia desarmado, e que começa a filmar isso, pode ser considerada um ativista? Talvez sim, se ela já estiver preparada para flagrar este tipo de agressão, por ser muito recorrente no bairro onde mora e por já haver uma mobilização social para gerar provas contra os agentes que cometem abusos. Mas, e se o flagrante aconteceu só ao acaso? Não, não se trata de um ativista, mas o vídeo pode ser usado para fins ativistas, pelo movimento negro, para denunciar a violência policial. Enfim, as definições são bastante precárias e dependem fundamentalmente do contexto, como sempre. Mas há alguns pontos a serem destacados:

  1. Trata-se de uma comunicação que visa desafiar o mainstream, por considerar que este não gera as representações sociais suficientes para dar conta da multiplicidade de visões de mundo da nossa sociedade, sobretudo em relação a grupos sociais minoritários ou vulneráveis;
  2. Trata-se de uma comunicação relacionada com a urgência de mostrar algo, que precisa ser registrado seja para denunciar abusos, seja para buscar o engajamento do público contra determinadas políticas que pioram condições de vida de uma parcela da população. A maioria das ações ativistas tem um viés de esquerda, mas isso não é um pré-requisito;
  3. O objetivo final deste tipo de comunicação geralmente é gerar mudanças sociais, porém isso não significa que, para isso, ele precise ser visto por uma ampla audiência. Deve ser visto pelas pessoas que têm alguma influência para transformar aquela situação;
  4. A paixão por certas causas sociais é o que determina a realização desses vídeos, mas isso também não significa que eles não possam ser parte de uma estratégia de comunicação maior, profissionalizada, com grande financiamento e inclusive verificação dos impactos alcançados.

Estamos falando, por exemplo, de videoativistas que mostraram os protestos na praça Gezi, em maio de 2013, na Turquia, contra o presidente-ditador Erdogan, e que fizeram o mundo saber o que estava acontecendo lá. Só para se ter uma ideia, durante a maior manifestação, na CNN Turquia era exibido um documentário sobre pinguins. Estamos falando de gente que está sendo presa, ou que perdeu o emprego e praticamente ficou banido do mercado de trabalho no país porque se envolveu com causas oposicionistas. Ainda sobre a Turquia, bem recentemente um videoativista, Kazim Kizil, do grupo Kamera Sokak, foi preso em 17 de abril simplesmente por filmar uma manifestação contrária aos resultados de um referendo que ampliou os poderes do ditador Erdogan. A também videoativista e pesquisadora da área Sirin Erensoy (na foto), 20170512_150538uma das conferencistas, falou da situação do colega e reuniu depoimentos dos participantes do encontro, pela liberdade dele, para montar um vídeo e tentar amplificar a rede de solidariedade ao ativista, usando a hashtag #FreeKazim.

Mas, ok, esse tipo de ação é facilmente reconhecido como ativista. Mas e vídeos em prol do apoio a refugiados, que contam com o patrocínio da Ericssom, uma gigante do setor da comunicação? Isso é ativismo ou só marketing social?

E essa é sim uma discussão relevante e interessante, pois mesmo que gere uma discussão que possa levar a mudanças sociais, não partiu da própria comunidade envolvida, no caso, dos refugiados, mas de uma agência de publicidade. O que leva a pensar que a mensagem apresentada também é potencialmente limitada pelos valores e interesses vinculados às empresas patrocinadoras.

Assim, eis que o ativismo puro e convicto cai por terra. No fim, o dinheiro manda, e mesmo causas com a aparência de transgressoras, contra-hegemônicas, podem muito bem ser causas abraçadas pelo sistema como “aceitáveis” para fazer parte do sistema. Gramsci já falava disso quando definia a hegemonia e as estratégias de manutenção do pensamento dominante.

Essa impressão foi enfatizada com a fala de ex-videoativistas presentes. Gente que ainda atua com causas sociais, mas de modo profissional, ganhando dinheiro, e que, por isso mesmo, diz não se sentir à vontade para se considerar ainda um ativista.

Mas ganhar dinheiro com causas sociais seria o pior dos pecados? Será que não há nada de mal nisso? Sim, há, ou pode haver, mas essa questão nos leva a pensar o quanto o financiamento deve ser identificado e explicado, quando falamos de iniciativas com viés ativista ou alternativo. Porque, normalmente, praticamente todos os grupos se autodenominam como “independentes”, ou mídia livre, em oposição que seria a mídia tradicional, presa e dependente do poder político e econômico hegemônico. Mas ao estabelecerem vínculos com instituições, mesmo as filantrópicas (afinal, grandes fundações estrangeiras são alimentadas por famílias e grupos empresariais riquíssimo que têm sim inúmeros interesses em jogo ao financiar causas socialmente elogiáveis, nem que seja ganhar mais poder simbólico, mas que geralmente passa também por limitar a forma como tais pautas são tratadas), criam situações de dependência. Pode não ser estabelecido em contrato formal, mas está lá, nas entrelinhas, e naturalmente esta dependência se converte em limitações ou vieses.

Assim, torna-se central não deixar de abordar o contexto de financiamento dos grupos alternativos e outras possíveis relações, parcerias, convênios, para ser possível compreender sua atuação. O que traz Marx e Bourdieu com força à discussão, mas chega de teoria por hoje. Devo tratar com maior profundidade dessas questões em algum post futuro.

Jornalismo alternativo não é sinônimo de fake news

Muita gente compara a escolha de um objeto de estudo a um relacionamento amoroso. Afinal, o pesquisador vai passar um longo período ao lado desse objeto, vai investigá-lo em profundidade, vai ter de saber tudo e mais um pouco sobre ele. Mas isso não significa que possa ser acrítico.

No caso do meu objeto, o jornalismo alternativo, é algo de que me aproximei com desconfiança, no início. Trabalhei muito tempo como jornalista em meios tradicionais, reproduzindo continuamente todas as crenças e os valores que nos envolvem desde o primeiro dia de faculdade num curso de comunicação, então não era muito fácil pensar que uma produção como a da Mídia Ninja, envolvida demais com alguma causa social, que não tenta nem um pouquinho trazer os “dois lados” da matéria, pudesse ser considerada um tipo diferente de jornalismo. Mas a jornalista que ainda existe dentro de mim acabou falando mais alto e deu origem à dúvida: bom, mas por que não pode ser jornalismo? Não está sendo feito para informar? Não está se colocando como uma alternativa a meios de comunicação tradicionais? Por que o jornalismo não pode ser assim também? Quem disse que não pode? O que me fez me apaixonar pelo objeto, e querer defendê-lo. Mas, a paixão pode cegar, e isso não combina com uma pesquisa acadêmica bem feita.

Uma provocação da minha orientadora, profª Anabela Carvalho, me trouxe um incômodo fundamental: bem, e esses sites ditos de alt-right, que notadamente difundem as tais fake news? Não seriam eles também um tipo de jornalismo alternativo? Afinal, eles têm tido um grande impacto neste ecossistema midiático contemporâneo mega fragmentado, influenciando diretamente eleições presidências (EUA e França são os casos mais recentes), e desafiando a prática jornalística tradicional frente-a-frente. Tanto que, como ouvi em um debate sobre webjornalismo, agora o que prevalecem são os fatos “alternativos” (sim, há pesquisadores e profissionais que têm associado o termo alternativo diretamente a mentiroso…).

De cara, minha reação apaixonada foi dizer: não, mas lógico que não, não pode ser. Mas, de novo, a jornalista-pesquisadora entrou em ação: mas por que não? Quem disse que não? Notícias mentirosas, manipuladas, enviesadas, são publicadas continuamente por meios de comunicação dito sérios, e isso não é novidade alguma. Então, por que excluir de cara tais sites? Eu tinha de me defrontar com eles antes de chegar a qualquer conclusão.

Foi o que eu fiz. Para deixar claro, não tenho qualquer interesse, neste momento, em estudar neste momento as fake news, até porque não compartilho a opinião de que entramos em um cenário de pós-verdade causado pelas redes sociais digitais. Mentiras sempre existiram. Mas não se pode ignorar a força desses sites, que têm matérias compartilhadas centenas de milhares de vezes, e que se vendem claramente como meios informativos “alternativos” à mídia tradicional, a “verdadeira” informação, “independente”.

Comecei a procura-los pelo Facebook, a partir de compartilhamentos de pessoas anti-PT, na busca primeiro daqueles sites considerados os alt-rights brasileiros, e foi fácil identificá-los. Entre eles é possível citar: Folha Política, Política na Rede, Correio do Poder, Crítica Política, Folha do Povo e Gazeta Social. Contudo, acabei por realmente confirmar que nenhum deles poderia ser considerado, pelos meus critérios, uma prática de jornalismo alternativo, pois nenhum conta com produção própria nem sequer aplicam técnicas jornalísticas na sua produção, apenas a simulam. Esses sites simplesmente captam notícias de outros portais de media tradicional e as modificam, ou criam conteúdo especulativo (sem trazer à tona nenhum elemento que evidencie verossimilhança, como entrevistas e documentos), para não dizer falso. Outro problema identificado foi que muitas destas publicações (seguidas por milhares de seguidores no Facebook) são organizadas pela mesma empresa, a Rede RFA (Raposo Fernandes Associados), a qual também aparece como responsável por outras páginas na rede social digital com cunho político de direita, como Juventude contra Corrupção, Movimento contra Corrupção, Apoio ao Moro, Movimento Democracia Participativa e Juiz Sérgio Moro – O Brasil está com Você. Tais páginas aparentemente noticiosas, além disso, são usadas para difundir os conteúdos de outros grupos parceiros, e acabam por compartilhar as mesmas “matérias”. O mesmo acontece com pelo menos outras duas páginas alt-rights brasileiras, o Diário do Brasil e o Jornalivre (este último vinculado com um dos principais grupos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o MBL – Movimento Brasil Livre), e por isso nenhum destes grupos foi incorporado ao levantamento. Vale ressaltar, de todo modo, que tais grupos têm um volume bastante significativo de seguidores (alguns têm mais de 200 mil no Facebook) e de fato mantêm uma forte aparência de serem portais jornalísticos, inclusive apelando a slogans que usam termos relacionados a práticas alternativas, como “jornalismo independente”, “mídia independente” e “ativista”, como a Rede Brasil de Ativismo, cujo lema é “24 horas no ar contra o comunismo”. Mas, em geral, as “matérias” restringem-se a textos curtos, de um ou dois parágrafos, sem fontes nem autores identificáveis e sem qualquer menção a uma entrevista ou a documentos.

Da mesma forma fiz com os grupos associados à defesa da esquerda, entre eles Brasil 247 e O Cafezinho. Nem de longe dá para dizer que eles são idênticos aos alt-rights, afinal têm autoria definida, têm local de produção identificável e são claramente mais opinativos do que informativos. Mas também publicam notícias, chupadas de outras fontes de informação e readequadas ao estilo do site, e não zelam pela aplicação de técnicas jornalísticas de checagem ao ponto de evitar as fake news. Tanto que não é nada incomum ver notícias bastante duvidosas circulando a partir destas iniciativas.

Enfim, definir um corpus de pesquisa é definir critérios de escolha. Eu poderia ter critérios que incluíssem tais sites no rol de grupos a serem estudados, mas decidi não fazer isso. Decidi também excluir blogs e outras iniciativas de produção individual, por considerar que o jornalismo é uma prática social coletiva. Num post futuro vou detalhar a escolha dos grupos que estou analisando, mas antecipo, então, que são propostas realizadas por grupos de pessoas, com a intenção de produzir material jornalístico próprio (informativo e opinativo), atrelados a relatos que podem ser verificáveis (não digo verdadeiros pois o conceito de verdade é tão controverso…), e que apliquem técnicas consagradas pelo jornalismo para tanto, com a captação de entrevistas, busca de documentos, contextualização do acontecimento e a hierarquização dos relatos de modo a estabelecer uma certa hierarquização. Além disso, tais grupos precisam desafiar de algum modo o jornalismo tradicional, seja ao abordar temas excluídos pelo mainstream, seja pelos formatos da produção, seja pela negação de valores tradicionais da prática jornalística, como a imparcialidade, o equilíbrio e a objetividade. E com esses critérios foi possível identificar uma quantidade considerável de grupos de jornalismo alternativo: 102 do Brasil, 41 da Espanha e 11 de Portugal (154 no total).

 

O paradigma do protesto

As manifestações do último dia 28 de abril, contra as reformas da previdência e da lei trabalhista no Brasil, foram marcadas, entre outras coisas, por uma cobertura midiática absolutamente contraditória: de um lado, os jornalões e as emissoras de TV enfatizaram o tumulto e os transtornos causados à população, com a interrupção dos transportes e com atos de vandalismo, e minimizaram as motivações dos protestos, relacionando-os a um sentimento simplesmente antigoverno; de outro lado, tivemos uma vasta cobertura da mídia alternativa, que de vários locais do Brasil mostrou em vídeos, fotos e textões o quanto a população estava engajada na greve geral, como os protestos eram legítimos e participativos, e como a polícia agiu com violência para reprimir atos pacíficos. O que nos leva a intuir que os meios de comunicação tradicional naturalmente atuam contra os protestos populares, enquanto os alternativos são naturalmente favoráveis.

Um só acontecimento, duas visões completamente avessas, vendidas por produções jornalísticas, com uso de ferramentas e estratégias discursivas jornalísticas, como se fossem a verdade absoluta. O que nos leva a questionar a tal da objetividade jornalística, até que ponto pode ser ainda um critério para se avaliar o profissionalismo de qualquer prática que se pretenda jornalística, mas não é disso que pretendo falar hoje. Recorro aqui a uma formulação teórica não tão nova, mas que ainda está em ampla discussão e começa a ser testada fora do contexto norte-americano: o paradigma do protesto.

O protest paradigm surgiu nos estudos midiáticos norte-americanos na década de 1980, e, principalmente com trabalhos desenvolvidos a partir do ano 2000, considera que os jornais tendem a ignorar ou minimizar as manifestações, ou ainda consideram os manifestantes como radicais que agem sem o aval da opinião pública e do interesse público. Também enxerga como tendência dos meios tradicionais que, em situações de protestos, privilegiem fontes oficiais (governamentais), centrem o foco da cobertura nos momentos de violência e confronto, criminalizando os manifestantes, coloquem em segundo plano ou omitam as causas das manifestações, entre outras tantas características.

No desenvolvimento desta perspectiva teórica, a partir de comparações entre publicações da mídia tradicional e da mídia alternativa, passou-se a considerar que os alternativos acabam por estruturar uma cobertura positiva dos protestos, ao privilegiar a voz dos manifestantes, ao relacionar o evento a uma ação democrática legitima e ao enfatizar as causas do movimento. Por outro lado, há estudos que demonstram que, assim como os meios tradicionais, a cobertura alternativa acaba por também dar muito espaço aos momentos de confronto, mas ao afirmar a violência da polícia contra os manifestantes.

Os estudos começaram pelos Estados Unidos, mas começam a ter olhos para outros locais do mundo, inclusive o Brasil. Um exemplo, que por sinal traz uma excelente revisão bibliográfica sobre o tema, é um estudo publicado em 2016 no The International Journal of Press/Politics, vol. 21 (2), intitulado Protesting the Paradigm: A Comparative Study of News Coverage of Protests in Brazil, China, and India, de autoria de Saif Shahin, Pei Zheng, Heloisa Aruth Sturm e Deepa Fadnis. O grupo de pesquisadores escolheu dois jornais de cada um desses países e analisou a cobertura feita durante protestos que aconteceram localmente, na sequência da Primavera Árabe. No caso brasileiro, foram analisadas matérias publicadas nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo sobre as manifestações de junho de 2013.

E os resultados são bastante interessantes. No caso brasileiro, verificou-se que o paradigma do protesto tem certa aplicabilidade, mas que os jornais, no fim das contas, não foram tão negativos com as manifestações. Mas isso se deu pelo posicionamento deles em relação ao governo que era alvo dos protestos, do PT. O mesmo se deu na Índia. Assim, como estudos anteriores já vinham demonstrando, os meios de comunicação tradicionais não são naturalmente contrários a manifestações. Esse posicionamento depende da conjuntura política (no caso, interessava atacar o governo e, com isso, apoiar protestos que o atingissem). Da mesma forma que os meios alternativos não são naturalmente pró-manifestações (os atos encenados pelos “coxinhas” contra o governo Dilma que o digam).

Com isso, voltamos àquela história da objetividade… Mas os jornais, e seus códigos deontológicos e manuais de redação, não pregam que o jornalismo de qualidade deve ser imparcial, neutro, objetivo, apolítico etc. etc. etc.? Já não é de hoje que se sabe que não existe discurso neutro, nem bula de remédio é livre de ideologia, quanto mais um discurso que no mínimo quer ser visto como verdadeiro e quer influenciar as pessoas. O que não significa jogar todos os jornais, tradicionais ou não, na vala comum das fake news. Mas é encarar os fatos: de um lado, ou de outro, por mais que se jure fazer um discurso asséptico e livre de opinião, sinto dizer, isso não é possível. E o ideal é ser transparente e trabalhar com essa clareza para que o leitor tenha plena consciência do que está lendo, e não precise ficar fazendo conjecturas a partir de sentimentos também alimentados por crenças e paixões políticas. Sem transparência, todo o jornalismo é jogado na lama da incerteza, o que é péssimo.

Foto de Tomaz Silva/Agência Brasil1074719-tmazs_abr_28.04.2017__dsc4799_1

Por onde começar

Decidi fazer este blog sobre jornalismo alternativo para servir quase como um diário de pesquisa, que me ajude a parar e refletir sobre os caminhos que estou tomando e o que tenho descoberto pelo caminho. Não sei se escrever estas reflexões será útil à minha tese no final das contas. Mas não estou procurando utilidade. Acho que busco mesmo é um espaço para desabafar, confrontar pensamentos antagónicos que me assombram, desfazer-me da seriedade do texto acadêmico puro por alguns momentos e, quem sabe, ajudar outros que persigam o mesmo caminho, da pesquisa em profundidade propiciada por um doutorado.

O objeto em si me confronta, pois trata-se de uma prática que conheço bem, por um lado, mas que por outro preciso reaprender, problematizar e ressignificar.

E começo falando do que seria esse jornalismo alternativo. Nada mais natural, não? Mas, por enquanto, não vou teorizar. Vou falar dele na prática, e com um bom exemplo. Na noite do dia 26 de abril de 2017, acontecia mais uma invasão a uma favela no Rio de Janeiro. Evento que se tornou tão banal na mídia tradicional que dá pra saber de cor o roteiro do off dos repórteres: “o confronto entre a polícia e traficantes”, “traficantes fizeram disparos com fuzil”, “a polícia ocupou a favela em busca de armas e munições”, X mortos, sem dizer sexo, cor nem se tinham qualquer envolvimento com o crime. E as vozes ouvidas também são as de sempre: o chefe da operação policial, um especialista em segurança pública. Se houver um morador, é muito.

Mas nesta noite, uma cobertura em especial foi completamente diferente e desafiadora. O Coletivo Papo Reto (https://www.facebook.com/ColetivoPapoReto/), grupo que atua no Complexo do Alemão com uma proposta de jornalismo alternativo, ficou por mais de duas horas ao vivo, em transmissão pelo Facebook, com um vídeo em que mostrava a ação policial. O vídeo, que ficou salvo no link https://www.facebook.com/ColetivoPapoReto/videos/1205965126196731/, acessado no dia 27/04/2017, teve 59.044 visualizações, 873 compartilhamentos e mais de 3.600 comentários pouco mais de 18 horas depois de ter ido ao ar.

Em resumo, ao longo de todo este tempo, o repórter (cujo nome eu ainda preciso confirmar), com um telefone celular, capacete e colete de imprensa, mostra a ação da polícia à distância, relatando os tiros, a movimentação dos policiais, detalhando as armas usadas. Também mostra moradores tentando fugir, seja a pé, de bicicleta, moto ou carro, e veículos buscando caminhos alternativos para escapar das balas.

Ao longo da transmissão, o jornalista também contextualiza o acontecimento, resultado da repressão policial após protesto de moradores contra a morte de um adolescente de 13 anos, atingido por uma “bala perdida” durante uma operação policial na favela. Segundo o repórter, não existem balas perdidas na favela, já que as ruas não são retas e as balas, se disparadas, sempre vão parar em algum lugar.

O jornalista relata ainda situações em que já foi perseguido e até agredido por policiais, e por isso reforça a necessidade de tomar medidas de segurança para não sofrer represálias.

Entre os aspetos que mais desafiam o jornalismo está a forma como se dá a interação com o público. São feitos comentários ao longo de toda a transmissão, e claramente o repórter têm acesso a esses comentários em diferentes momentos e responde. Seja criticando-os, por reproduzirem o discurso de apoio à repressão policial como única forma de combate ao crime organizado, ou por reclamarem que o Coletivo Papo Reto só denuncia a ação policial, e não mostra os bandidos. Seja agradecendo quando eram feitos elogios ao seu trabalho. O seu papel, ali, repetia, não era entregar os bandidos, pois isso é o papel da polícia, mas sim denunciar abusos de policiais, que são servidores públicos, do Estado, e deveriam zelar pela segurança dos cidadãos, e não atentar contra eles. Afirmou, assim, um jornalismo com lado.

Mas não só lado. Imerso na história inteira, mas o que se intensifica após 1h35min de filmagem. Que precisa se esconder, foge, sente os efeitos do gás de pimenta jogado pela polícia. Que se revolta ao ver um morador baleado na cabeça, sendo carregado a pé por outros moradores, pois não havia carros para levá-lo ao hospital nem qualquer dos policiais na ação ofereceu ajuda para resgatar a vítima. Que xinga palavrões ao reafirmar que a aquela rotina é inaceitável.

A proximidade de narrativas da mídia alternativa comunitária não é novidade, mas a potencialidade como essa narrativa pode amplificar vozes que antes eram simplesmente silenciadas e pronto é imensa. Tudo bem, tenho interesse no tema, mas estou em Portugal e vi as imagens primeiro sendo compartilhadas por um antigo colega de trabalho, que vive em São Paulo. O relato também foi citado pela Folha de S. Paulo, que cometeu o erro de não indicar o nome completo do coletivo (o chamou de Coletivo Papo).

A realidade das favelas e das comunidades pobres em geral no Brasil está longe de mudar. Mas este tipo de iniciativa mostra que é possível começar a agregar novas versões e vozes às narrativas sociais coletivas, sobretudo quando há conflitos. Sem assistir ao vídeo e lendo, por exemplo, a notícia difundida pelo G1 (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/morre-jovem-baleado-no-complexo-do-alemao-no-rio.ghtml), a impressão é de que houve um confronto entre policiais e traficantes. O de sempre. Mas, ao assistir o vídeo, fica evidenciado que ali não estavam sendo atacados traficantes, mas sim trabalhadores, cidadãos que pagam seus impostos e que, quando chegarem em casa, vão se deparar com paredes cravejadas de balas ou com algum parente baleado ou até morto. São pessoas, moradoras de favela, cujas vidas importam. E que não podem mais ficar sob o jugo da violência.

Eis meu objeto. Mas ele é muito mais. São 158 grupos do Brasil, de Portugal e da Espanha, que atuam de modo tão heterogêneo, que às vezes fica até difícil atribuir-lhes o mesmo rótulo “alternativo”. Mas ainda não arranjei nome melhor.